Voltei…
A passo apressado para um lugar desconhecido.
A chave rodou, escancarou a porta e deixou o vento entrar. Subi as escadas que gemiam como se um espinho se lhes espetasse a cada passo.
Lá, no alto de tudo, deixei-me estar.
O por do sol, mais alto que eu, engoliu-me sem dó algum.
A garganta apertou. Engoli em seco. As lágrimas baptizaram o vestido gasto do meu armário, sem feitio definido. Uma mescla de sombras, linhas que um dia foram de carvão e agora são apenas linhas negras…
O som deixou de segredar palavras harmoniosas ao meu ouvido e passou a ser apenas barulho. A luz já não fulgura, simplesmente iluminava como se fosse somente a sua obrigação.
E o céu caiu como um tecto em ruínas.
Era tarde… Mas quem se importava com as horas?
Tenho frio... Mas quem quer saber?
A parede transpira o calor que me falta. A mágoa abraça-me como o quente do cobertor da minha mãe.
Até o sol foge de mim. Até o sol abraça a lua por momentos. Até ele encontrou tempo para abraçar alguém.
Aquele alto só me pede para cair, para sentir o vento nos cabelos, talvez no chão encontre alguém que queira fazer parte deste teatro… Do teatro dos meus dias em que só me apetece gritar, rasgar, arrancar…
Caí…
A cabeça, que dorme sobre os joelhos só pensa no vazio, mas não o consegue alcançar… Pensa nas nuvens que cobrem os meus olhos. Pensa no choro frio que todas as noites me visita. No tempo em que estou assim, sozinha sem ninguém que se preocupe como me resgatar desta solidão. Estou assim, como uma semente ao vento sem saber qual a terra mais fértil, qual a mão mais laboriosa, qual a agua mais farta. Sem saber…
Sem saber que não preciso de nada nem de ninguém, que eu mesma e eu somos capazes de ser felizes.
Mas o dia final chegou e é hoje.
Não vou mais subir a escada, nem me sentar neste chão gélido. Ele não vai mais ranger na minha presença. Não vou mais querer saber da tua ausência. Nunca mais.
O sol voltou do seu esconderijo, trouxe a lua consigo. Disseram preocupar-se. Deram-me a luz que fulgurava e não apenas ilumina. Deram-me a força para vencer sozinha. Eu própria me preocupo com o meu frio, com o estar tarde ou não. O vestido secou, os olhos também. O sorriso começou a desenhar-se muito vagarosamente. E a vontade de viver e provar que sou capaz sobrepôs-se a tudo resto. Quero agora somente agarrar-me a vida. Tentei correr de novo pelo campo, sentir a relva fresca nos meus pés torturados e o cheiro do verão em mim, mas a pernas não mais me obedeceram.
Era tarde de mais, já tinha caído…
Voltei a chorar…